terça-feira, 29 de junho de 2010

Reflexão



As vezes é necessário um pouco de lágrimas para irrigar a nossa flor interior, para que ela possa crescer e se desenvolver, na luz da sabedoria.

(Carlos A. T. Rossignolo)
E é lágrima que corre em meu rosto sem direção, esse sofrimento que guardo no peito, esse amor reprimido que me faz gritar por dentro um "te amo" inaudível... Isso me faz sentir a humanidade que trago por herança dentro de mim!

(Carlos A. T. Rossignolo)

Novo Amor

“No romantismo a idealização, no simbolismo a melancolia do amor.
Há uma nova forma de amar, um amor moderado, lógico, controlável.”


Amor meu!
Te amo assim, desse jeito,
Que do calor dos peitos seus,
Já após o beijo, desfeito,
Olhando o azul dos céus.

Amo de vez em vez!
Não quero ser pressionado,
Viverei livre como beija-flor,
Não serei aprisionado,
Pelo seu ingrato amor.

Amo logicamente!
As horas que contigo passo,
São preciosas, ficam na memória,
Mas, logo após, me livro do seu laço,
Sozinho farei história.

Amo moderadamente!
Tenho uma vida para viver,
E você também a tem,
Por ti não hei de sofrer,
Distanciando-me, porém.

Amo disfarçadamente!
Do sorriso sincero,
Tens de mim a gratidão,
Por entender este esmero,
Do fundo de meu coração.


(Carlos A. T. Rossignolo)

Bivalente

Eu, poeta, vejo graça nas voltas da vida,
Sinto prazer em compartilhar esse momento,
Que da minha bagagem traz a lida,
Da sorte, amor, sentimento ao vento.

Sinto alegria, vejo um ângulo diferente,
Tenho em meu peito a poesia, sensibilidade,
Vejo um mundo progressista, reluzente,
Não vejo defeitos, sim complexidade.

Eu, homem, não sei a graça de viver,
Vivo triste, sozinho, no mundo real,
Não tenho a fuga da poesia, saber,
Só sinto a dissertação, que me é letal.

O mundo é cinza, áspero e rude,
Só dá vitória aos pessimistas, solidão,
Tentei. Tentei fazer o que pude,
Mas a amargura sempre volta ao coração.

Ó matemáticos! Se encontrares
Uma fórmula de coexistência,
Lancem-na toda aos ares,
Se não, pa-ciência.

(Carlos A. T. Rossignolo)

domingo, 27 de junho de 2010

Atmosfera

Os pássaros em ti deleitam,
As nuvens se formam em teu leito,
Os raios solares te espreitam,
Eu, te respiro em meu peito.

Tu, atmosfera, vem e voa,
Em tuas asas quero estar,
Essa imensidão que me magoa,
Essa pressão intensa de ar.

Por ti eu livre seria,
E nos teus ares flutuantes,
Um ser feliz se fazia,
De todas as direções errantes.

Envolveria o planeta inteiro,
Em meus braços leves seria subjugado,
Exalaria um doce cheiro,
E aos céus o meu legado.

(Carlos A. T. Rossignolo)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Iluminado

Estavam os raios de luz monocromáticos na janela,
Em que passavam refratando e refletindo;
O som que saia da tampa da panela,
Ia me atingir, me fazer calar, ouvindo.

Essa ondas vibravam, diferentes das do mar,
Me atingiam, me tocavam, traduziam;
Conflitavam com meu eu, me fazia pensar,
E assim, as crianças que as ouviam, sonhavam.

No canto da sala um piano que tocava,
Espalhava suas notas melancólicas pelo ar,
E meus ouvidos, do mundo me cegava.

Só havia o sentir, não conseguia mais pensar,
E o vento deslizante que chegava,
Trazia os suspiros satisfeitos das ninfas do mar.

(Carlos A. T. Rossignolo)

Viajem

Há lugares longínquos em que queremos estar,
Há na vida, mares em que podemos navegar,
Há escolhas e renúncias que iremos fazer,
Há um mundo afora que podemos ter.

Viajaria por terras negras e frias,
Com minha mente - uma pena na mão,
Preencheria de idéias revolucionárias folhas vazias,
E guardaria esses poemas em meu coração.

Em meu sangue corre o amor,
Em minhas veias a paixão,
Em minha mente apenas dor,
Causada pela sua ausência: solidão.

Tendes que viajar, cruzardes fronteiras,
Conhecerdes novos ares, atmosferas,
Recusardes vossa vida inteira,
Na ausência de um dia o qual esperas.

Em uma coisa somente consigo pensar,
Naqueles teus braços macios a me acariciar,
E como não os sinto aqui, volto a sofrer,
Por querer uma coisa a qual não posso ter.

(Carlos A. T. Rossignolo)

Quase Gente

“Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás.
E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme.
As crianças espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme,
num chiqueiro enorme.
O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.”
(Vidas Secas - Graciliano Ramos)

Era tarde avermelhada no sertão,
E as feridas já lhe causavam dor,
A doença lhe abatera como furacão,
E sua boca já não sentia o sabor.

Uma angústia apertava seu coração,
As moscas lhe causavam fétido odor,
Queria rolar-se na lama como um furão,
Ver as crianças brincando com amor.

No pátio viu o metal reluzente,
Que estava mirando em sua direção,
No fulgor do barulho estridente,
Não sentia seu corpo, ouviu uma oração.

Seu calor era duramente roubado,
Fraca, queria latir, morder,
Olhava para o céu estrelado,
E gostava, não queria morrer.

(Carlos A. T. R ossignolo)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cadeia Cultural

“Havia muitas coisas. Ele não podia explicá-las, mas havia.
Fossem perguntar a seu Tomás da bolandeira, que lia livros e sabia
onde tinha as ventas.
Seu Tomás da bolandeira contaria aquela história.
Ele, Fabiano, um bruto, não contava nada.”
(Vidas Secas - Graciliano Ramos)


Era um amontoado de pensamentos
Desorganizados e embaralhados na cabeça
Era mais fácil expressar em sentimentos
Todas as alegrias ou tristezas.

Era bruto, rude, áspero e aculturado
Queria falar, queria sentir
Queria deixar a alguém seu legado
Mas o que fazia era chorar ou sorrir.

Iria aprender a falar e articular palavras
Iria aprender a construir pensamentos
Iria deixar de apenas olhar as cabras
E seguir as letras veloz ou lento como o vento.

O mundo não lhe era amigo
E a seca mortal pairou no sertão
As esperanças mortas sumiram consigo
E deixaram um aperto em seu coração.

As catingas ralas, a paisagem morta
A vida lhe tirava a alegria
Os cactos, todos de postura torta
Com uma mancha verde causavam euforia.

E em um ciclo de prisão
Estava destinado a este triste fim
Não mudaria de vida, como os negros no porão
Vendo sempre o triste, apático, morto jardim.

(Carlos A. T. Rossignolo)

Ilusão




Era um dia como outro qualquer. Decidi dar uma volta pelo campo que rodeava o casebre de palha onde era hóspede. Lá, no alto de uma colina, consegui presenciar a cena mais linda de toda minha pacata vida. Era entardecer, o sol estava preguiçoso deslizando seus raios de vermelho vivo sobre o leito das montanhas frias e cinzentas. As nuvens dançavam sobre seu véu reluzente, emitindo suas cores e transfigurando a terra a seus pés. No vale, um rio serpenteava por entre as montanhas ganhando espaço, ganhando direção, sentido, alimentando a vida. Suas coníferas estavam verdes, tapeteando seu aveludado aparentar pelas imensidões da imaginação. Os picos das altas montanhas pareciam tanger o céu, que revidava e espelhava sua imensidão e seu esplendor nas águas translúcidas e reflexivas do curso d’água que desaparecia pela fenda da vida.

(Carlos A. T. Rossignolo)

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Mythologia




O Uni-verso já não tinha mais governante
Os deuses olímpicos o trono exigiam
Os titãns se ajuntavam, um poder possante
Mas o Olimpo triunfou, sentiam.

Zeus assume o trono em reluzente brilho
Cria o homem, cria a vida, por descuido
E ela passa, desafia-o em trilhos
E com ela a decepção, mudo.

Criatura volta-se contra criador
Na terra, nos céus, nos mares
Já não se ouve mais a palavra amor
E em fúria, com um trovão, tudo pelos ares.

Não havia céu... Não havia terra... Não havia ar...
A humanidade sofria por não ter tido gratidão
E nem as ninfas que habitavam o mar
A Zeus podiam amolecer o coração.

O amor pago com ingratidão,
A vida paga com destruição,
A dádiva paga com privação,
E assim segue a humanidade...
Na mais profunda solidão!

(Carlos A. T. Rossignolo)

Túmulo Profundo




Em uma noite gélida, fria e morta em seu sentido
Quando das árvores caíam as últimas folhas sombrias
A névoa pairava sobre o campo alvo e abatido
Jazia uma linda jovem, que distante sua face a fazia

Seu sangue estava escuro, sem aquele vermelho vivo
Seus olhos não mais transmutavam aquele azul profundo
Suas mãos gélidas não me faziam seu cativo
Sua imutabilidade e impotência pregavam-na ao fundo

Os corvos cantavam um som fúnebre e vazio
Os vermes estavam a esperar sua carne aveludada
O vento fazia reverência a face morta - sopro frio
E ao mais profundo sono de desespero estava destinada

Sua beleza já se desfazia, seu corpo em decomposição
O ruído da noite desviava do túmulo da senhora
E não mais ouvia, aquele forte e ritmado som do coração
Que não mais batia com a leveza de outrora

Sua tumba, com pesado mármore, foi lacrada
Não havia volta, sentia o peso da terra
E sua boca, formadora de belas palavras - fechada
O anjo da outra vida, tocar a trombeta, imóvel, espera.

(Carlos A. T. Rossignolo)
"The most beautiful effect can not be banned
Would not it be something so eloquent bar target
All worth it, if love exists
Love without fear and say I love you!
Sacrifice yourself
Something that feels, it just feels
Does not translate with mere words
Decodes only the look and
Hear the heartbeat of your heart."

(Carlos A. T. Rossignolo)

Idealização

Minha jornada cessa aqui, querida!
Em frias noites procurei seu calor
Tentei entender porque a vida
Me privou de seu amor

Embalsamado em meu pranto
Estendi a mão pro céu
Mas despedaçou meu recanto
Só a ti, em pensamento, fui fiel

Queria que os pássaros
Tivessem testemunhado nosso amor
Porém em meus braços
Abracei apenas dor

Por ti amei loucamente
Por ti risquei terra no quintal
Por ti sacrifiquei minha mente
Por ti, sendo algo irreal.

(Carlos A. T. Rossignolo)

Flor-de-Lis

Pelos campos alvos e claros da França
Nasce, brota, cresce e morre a Flor
Os povos, sobre o poder do Sol têm esperança
Mas a Pátria lhes embute dor

Repressão, medo, angústia, miséria – absolutismo
Caráter de um sistema macrocefálico inútil
Onde o rei impõe seu egocentrismo
Braços, espadas, juntos em um golpe sutil

França! França! O que fez a ti Versailles?
Gastos, corte, nobreza. Seus filhos esperam
Terras, céu, ar e mares
Sejam firmes: exclamem! Conquistem o que nunca tiveram

Os amores, os perfumes, os sabores
Onde está tu, país que encontrou o céu azul?
Se esconde atrás das faces de um Império em dores
Que encontrou seu fim em Waterloo.

(Carlos A. T. Rossignolo)

Expressionismo




O sol a pino, seus raios tangentes
As árvores brilhavam, reluzentes
Os lagos, corriam por convecção
Os pássaros com seu canto, alegravam meu coração

A moça de vestidos ao vento
Balançava os negros cabelos me deixando atento
A brisa suave tocava meu rosto
E o banco de madeira me servia de encosto

Tudo mudou, os raios sumiram
As árvores balançavam e caiam
Os lagos negros, sem luz gritavam às margens
Os pássaros desordenados deformavam a paisagem

A moça segurando o vestido tanto
Prendeu os cabelos e fez perder seu encanto
A brisa gélida em mim soprava
O banco com o tempo já cambaleava

As nuvens desprendiam-se do céu
As pessoas não se assustaram
A distorção me deixava tenso como um réu
E assim, os anos passaram.

(Carlos A. T. Rossingolo)

Estrela na Janela

Olhava, sozinho e amargo,
Para o vazio obscuro do céu,
Não havia estrelas, não havia luz,
Não havia paz, nem nada.
Estava pedindo aos carrascos a palidez,
Queria fechar os olhos, descansar.
Jazido no meu pranto, no meu manto,
Não havia sentido algum,
Queria desistir, queria parar!
Mas você estava lá, estava a contemplar-me.
Estava a amar-me, sendo como sou.
Tu, oh estrela!
Tu brilhavas para mim quando o mundo me abandonou.
Tu, sozinha e alegre, resplandecias o céu,
A mim foste fiel, foste amiga, sincera.
Na minha janela, estrela foste.
Foste estrela na minha janela.
Estrela companheira, não dos sábios,
Nem dos astrônomos, mas de mim.
Deste pobre, fraco, errante ser.

(Carlos A. T. Rossignolo)

Devaneios ao por do sol

Sentado na poltrona, via passando o tempo
Na janela, barulhos ecoavam com o vento
O nuvens formavam-se alegres e densas
A emoção e estranheza eram imensas

Luz, sombra, cansaço, esperança
O cinza colorido da noite dança
Desbota, rola, destorce a realidade
Vejo o mundo pela janela, maldade

Carros vão e vem, tudo passa
O tempo passa, a sorte descalça
Tenta correr pelas ruas quentes
E as pessoas em ranger de dentes

Nada dura, o tempo cura
A dor se transforma em sabedoria pura
Ao olhar: nada. Apenas uma janela pequena
E por ela, vejo o mundo e penso: que pena!

(Carlos A. T. Rossignolo)

Cálice

Não consigo pensar em algo para escrever
Não possuo ideias mirabolantes em minha cabeça
Se as tivesse, um dia talvez esqueça
Mas preciso sentir essa emoção, para poeta, viver.

Sinto o perfume das rosas que são brancas
Vejo a luz do luar penetrar pela janela
Tenho sonhos, lindos, por ela
Dela, lindos sonhos, ancas.

Não! Não posso me entregar a esse desejo vil
Não deixarei ao mundo um verme, desista!
Um parasita destruidor capitalista
Que do céu, com cinzas, retira o anil.

Serei eu, o mais puro ser
Que por não ser puro, morrerei
Morrerei sim, mas me eternizarei
Eternizarei nas obras, feitos, assim viverei.

Não tenho Sangue Real,
O Sangue Real não transmitirei, leal
O Santo Graal tenho por herança,
Do Santo Graal a esperança.

(Carlos A. T. Rossignolo)

Athena




Tu, oh poderosa protetora
Protegeste a polis grega não por amor
Foste minha musa inspiradora
E em sua face não encontrei temor

Não eras pura, dos cabelos alvejados
Não tinhas olhos azuis, nem vestiste manto branco
Eras calma, singela em seu legado
Reluzia sim, não luz, mas seu encanto

Não foste sonho a mim, e sim alegria
Em visão tangível aparecia, me mostrando o mundo real
E em gestos brandos, calmos, uma epifania

Somente a ti, meu coração é leal
Somente a seus cabelos negros, harmonia
Somente em tua companhia, quero a vida eternal.

(Carlos A. T. Rossignolo)

Anjo

Sua face translúcida e bela
Vem em sonhos me tanger
Da névoa envolta faz-se cela
E impõe à realidade a se esconder

Seus vestidos reluziam como prata
Seus olhos azuis ondulavam como oceano
Em sua imensidão me traga e mata
As minhas esperanças, amor tirano!

Em um instante triste e frio
Sua luz abandona meu vago ser
Tornando-me um completo vazio

Não há existência, não há viver
Sem você sou como um rio
Passando as águas sem perceber.

(Carlos A. T. Rossignolo)

Amor Arterial

Do corpo passa ao coração
Veia cava
Do átrio e ventrículo direito ao pulmão
Artéria pulmonar
Do pulmão ao átrio e ventrículo esquerdo
Veia pulmonar
Do ventrículo esquerdo, arterial, para o corpo
Artéria aorta

Esse é o caminho
Longo, rápido, pulsante
Meu sangue se transforma, hematose
Meu coração bate cada vez mais forte

Por ti, Fero Amor
Por ti, Coração
Por ti, Solidão
Por ti, Minha amada!

(Carlin A. T. Rossignolo)

Alice no País das Loucuras Maravilhosas

Alice! Por que conversas com animais?
Por que dá atenção a uma lagarta?
Por que recusas aos permanentes sinais
De que sua personalidade está cortada?

Olhe! Se olhe em um espelho qualquer
Conheças quem tu és
Uma menina, uma moça, uma mulher.
Não cresças a ponto de não ver seus pés.

Do narguilè sai a charada: quem é você?
Da mente confusa e alucinada sai um “não sei”
E assim o Oráculo prevê
Que da Rainha de Copas acabará a lei.

Viva, viva nesse País, viva esse País
Veja as flores coloridas, que pintam de aquarela o céu
Que fazem seus moradores pseudo-feliz
E que as cabeças cortadas saltam dos réus.

Mas da terra nasce a rosa.
A rosa da esperança, não rosa nem vermelha
Que desabrocha, branca, entre a corte e goza
Da verdadeira Rainha em que se espelha.

(Carlos A. T. Rossignolo)

domingo, 20 de junho de 2010

Vaga-lume

Em noites desesperadoras
A inveja corrompe o ser humano
As vagas batem enfurecidas em zorras
E o divino torna-se profano.

No céu um vaga-lume...

A bruma e a névoa se curvam
Em reverência a esse pequeno ser
E as areias não mais se assustavam
Que em sua luz vieram a resplandecer.

Na terra um vaga-lume...

Poseidon em sua imensidão
Deixa as profundezas de seu mar
E sente em seu gélido coração
Aquele pequeno alumiar.

No mar um vaga-lume...

Na noite sombria brilha uma estrela a mais
A mais linda de todas, a mais pequena
E percebe todo o ser vivente no cais
Que a vida já não os condena.

Fez de seu brilho a Esperança, oh vaga-lume!

(Carlos A. T. Rossignolo)

terça-feira, 8 de junho de 2010

POESIA PURA


Para que decorar poesia? Para que temê-la?
Para que estimá-la? Ou distorcê-la?

Podemos senti-la, apreciá-la, amá-la.
Podemos tecê-la. Não! Isso é coisa de parnasiano aguado.
Apenas podemos deixá-la se construir.

(Carlos A. T. Rossignolo)

NOVA ISMÁLIA


“Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar”
(Ismália, Alphonsus de Guimaraens)





Ismália logo percebeu,
Que não havia paz em seu cantar...
Viu em sua cabeça um véu,
Viu em seu semblante o chorar.

Seu mundo se escureceu,
As máquinas queria quebrar...
Queria a igualdade para os seus,
Queria seu pranto enxugar...

Na loucura em que se deu,
Em seu íntimo pôs-se a gritar...
Estava longe do céu,
Estava decidida a morte se entregar.

E com heroína se deu,
O seu triste pesar...
Enlouqueceu, emudeceu,
Já não podia mais cantar...

Seu corpo entregue aos seus,
Sua alma a vagar...
Não havia mais véu,
Não havia mais cantar.

(Carlos A. T. Rossignolo)

ANJO

Sua face translúcida e bela
Vem em sonhos me tanger
Da névoa envolta faz-se cela
E impõe à realidade a se esconder

Seus vestidos reluziam como prata
Seus olhos azuis ondulavam como oceano
Em sua imensidão me traga e mata
As minhas esperanças, amor tirano!

Em um instante triste e frio
Sua luz abandona meu vago ser
Tornando-me um completo vazio

Não há existência, não há viver
Sem você sou como um rio
Passando as águas sem perceber.

(Carlos A. T. Rossignolo)