sexta-feira, 25 de junho de 2010

Quase Gente

“Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás.
E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme.
As crianças espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme,
num chiqueiro enorme.
O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.”
(Vidas Secas - Graciliano Ramos)

Era tarde avermelhada no sertão,
E as feridas já lhe causavam dor,
A doença lhe abatera como furacão,
E sua boca já não sentia o sabor.

Uma angústia apertava seu coração,
As moscas lhe causavam fétido odor,
Queria rolar-se na lama como um furão,
Ver as crianças brincando com amor.

No pátio viu o metal reluzente,
Que estava mirando em sua direção,
No fulgor do barulho estridente,
Não sentia seu corpo, ouviu uma oração.

Seu calor era duramente roubado,
Fraca, queria latir, morder,
Olhava para o céu estrelado,
E gostava, não queria morrer.

(Carlos A. T. R ossignolo)

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