quarta-feira, 23 de junho de 2010

Cadeia Cultural

“Havia muitas coisas. Ele não podia explicá-las, mas havia.
Fossem perguntar a seu Tomás da bolandeira, que lia livros e sabia
onde tinha as ventas.
Seu Tomás da bolandeira contaria aquela história.
Ele, Fabiano, um bruto, não contava nada.”
(Vidas Secas - Graciliano Ramos)


Era um amontoado de pensamentos
Desorganizados e embaralhados na cabeça
Era mais fácil expressar em sentimentos
Todas as alegrias ou tristezas.

Era bruto, rude, áspero e aculturado
Queria falar, queria sentir
Queria deixar a alguém seu legado
Mas o que fazia era chorar ou sorrir.

Iria aprender a falar e articular palavras
Iria aprender a construir pensamentos
Iria deixar de apenas olhar as cabras
E seguir as letras veloz ou lento como o vento.

O mundo não lhe era amigo
E a seca mortal pairou no sertão
As esperanças mortas sumiram consigo
E deixaram um aperto em seu coração.

As catingas ralas, a paisagem morta
A vida lhe tirava a alegria
Os cactos, todos de postura torta
Com uma mancha verde causavam euforia.

E em um ciclo de prisão
Estava destinado a este triste fim
Não mudaria de vida, como os negros no porão
Vendo sempre o triste, apático, morto jardim.

(Carlos A. T. Rossignolo)

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